Revolução de Xutos e Pontapés

Revolução feita por uma geração que como eu, assistiu ao ensaios dos Xutos num depósito de mobílias partidas em frente à entrada para o ginásio da Escola António Arroio.

Esta geração que os avós lutaram na grande guerra e na implantação da republica. Que os pais viveram uma infância de fome e de senhas de racionamento durante a segunda guerra mundial e foram depois lutar no Ultramar.

Uma geração que viu os seus irmãos mais velhos presos pela PIDE, refugiados em França ou escondidos em casa de amigos.

Esta geração que ainda hoje sabe de cor as canções que gritou em 74 e 75; que assistiu ao brinde com whisky ao “carneiro esturricado”; que se orgulha e se sente crescer por ter estado nas manifestação que fizeram cair Cavaco; que fizeram a sua carreira profissional em crescendo, acreditando no emprego para a vida, que não era possível despedimentos sem justa causa; que exerceram profissões altamente qualificadas, cargos de chefia, foram quadros superiores e que agora, se encontram em grande número desempregados, desvalorizados e descriminados pela idade; que vêm os seus pais receberem reformas de miséria, e estão impossibilitados de os apoiarem;  os seu filhos sem emprego ou explorados a recibo verde; que não têm segurança na reforma, nem no sistema de saúde, que se habituaram a ter seguro de saúde privado que perderam junto com o emprego; que receberam parte do seu ordenado em stock options para evitar os impostos ou em fundos de reforma que foram pia a baixo.

Uma geração que não confia na justiça, não confia na politica mas conhece as FP25, tem como ídolos não os Tokio Hotel mas Che, Otelo e Isabel do Carmo.

Muitos estão a optar por reformas antecipadas, mas não se reformam para morrer nos bancos de jardim. Reformam-se por protesto. Tem instrução e conhecimentos, ainda têm força, algum dinheiro e não são enganados pelo consumismo e a manipulação dos mass media.

Tiveram perspectivas que foram e estão a ser todos os dias goradas, conheceram os dias da ditadura e do fascismo e reconhecem o seu regresso subtil mas constante.

É esta geração a que se propõe a fazer a próxima revolução. Não a dos cravos mas a dos xutos e pontapés.

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