segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Memórias de Abril presente (Dia Mundial da Rádio)

Neste Dia Mundial da Rádio, 13 de Fevereiro de 2012, relembro momentos que em Portugal a rádio assumiu um papel fulcral.

Em 1974, numa época em que as escutas telefónicas eram norma, na mesa do lado do café poderia estar um bufo da PIDE, quando qualquer reunião era proibida e não existia telemóveis (descartáveis de preferência), nem internet (nem cibercafés), foi pela rádio que se deu a conhecer o inicio das ações revolucionárias.

Foram escolhidas senhas musicais e, estranhamente, era grande o número de pessoas que as esperavam. Não só os militares mas também familiares e próximos de presos políticos.  Em nossa casa estava, abrigado de futuras rusgas, um amigo que tinha saído da prisão da Trafaria. Nessa prisão da PIDE/DGS estavam os militares do golpe falhado de 16 de Março e foi assim que por essa altura escutávamos atentamente a rádio.

No dia 24 de Abril de 1974,  João Paulo Dinis aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa deu a primeira senha: «Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74, “E Depois do Adeus” ...».  Registo áudio

“Começou! Começou!!” Mas o quê? – interrogámos-nos - “São os militares! Vão fazer cair o Caetano.” Assim, sem mais nada saber, continuou a escuta, de olhos postos no rádio…

Foi uma explosão contida que me acordou “Funcionou! Ganhámos! Somos livres! Posso ir para casa.” Em fundo, agora um pouco mais alto, ouvi  pela primeira vez “Grândola Vila Morena”, aquele som manteve-me acordada e com ele vinha uma força que me fazia crescer…

Meia-noite e 20 minutos, Zeca Afonso a passar na Rádio Renascença, emissora católica portuguesa… Era motivo para pulos, dança e abraços em nossa casa. Em contraste, as vozes continuavam baixas, sempre longe dos ouvidos dos vizinhos.

O rádio ligado era então o live stream de agora… Quem viveu esses momentos valoriza seguramente a atual liberdade na internet e encontra motivos para não aceitar menos.

mulher_25 abril

Foi uma voz feminina, que repeti vezes sem conta, que hoje quero cantar:  

Somos Livres (Uma Gaivota voava voava)

Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.

Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa,
esta terra, hoje nossa

Uma gaivota voava, voava,
asas de vento,
coração de mar.
(repete) Uma gaivota... mar
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.
(repete) Como ela.. de voar

Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
(repete) Uma papoila...qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer,
(repete) Como ela ... crescer.

Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
(repete) Uma criança...combater
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.
(repete) Como ela...dizer.

Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
(repete) Somos um ... paz
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.
(repete 3 vezes) Somos livres ...atrás. (registo áudio)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Encantamento

há uma palavra mágica que se diz. essa palavra

é sempre diferente. montanha, precipício, brilho.

essa palavra pode ser um olhar. a voz. um olhar.

essa palavra pode ser o espaço de silêncio onde

não se disse uma palavra. brilho, montanha.

essa palavra pode ser uma palavra, qualquer palavra.

há uma palavra mágica que se diz. há um momento.

depois dessa palavra, só depois dessa palavra,

pode começar o amor.

José Luís Peixoto, in A Casa, A Escuridão (Temas e Debates, 2002)
amor_m_o

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Não sei cantar amores débeis

coracao-fogo

 

«Não sei cantar os amores débeis. Adoro o Sol, amo a Cor, quero a Chama, bendigo a Força, exalta-me o Sangue, embriaga-me a Violência, deliro com a Luta, sonho com os gritos rebeldes do Mar!”, Judith Teixeira

 

Sobre Judite Teixeira diz Couto Viana: Pasmo que qualquer dos poemas citados não tenha merecido à sensibilidade e cultura de Natália Correia a inclusão na sua Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, onde alguns talvez menos autênticos se coligiram. E pasmo que Judith Teixeira não esteja presente na Antologia da Poesia Feminina Portuguesa que a cultura e sensibilidade de António Salvado organizaram. in António Manuel Couto Viana, in Coração Arquivista, Lisboa, Verbo, 197?, pág. 198-208,

Porque Judith Teixeira transpira na sua poesia, o amor sáfico, a perseguição destruidora do seu trabalho vem de longe. É conhecida a reação ao seu primeiro livro “Decadência”com a intervenção política figurada em arrogante moralismo, numa ação levada a cabo pela "Liga de Ação dos Estudantes de Lisboa" e que acaba por dar o fogo, como destino, às obras dos artistas considerados "decadentes, os poetas de Sodoma". Por esta altura são também apreendidos pela policia "Sodoma Divinisada" de Raul Leal e "Canções " de António Botto. Áudio por Luís Gaspar

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Mais Beijos (Judith Teixeira)

Mais BeijosCristina Troufa
Devagar... 
outro beijo... ou ainda...
O teu olhar, misterioso e lento,
veio desgrenhar
a cálida tempestade
que me desvaira o pensamento!
Mais beijos!...
Deixa que eu, endoidecida,
incendeie a tua boca
e domine a tua vida!
Sim, amor..
deixa que se alongue mais
este momento breve!...
— que o meu desejo subindo
solte a rubra asa
e nos leve!
Judith Teixeira, Maio 1925
Imagem de Cristina Troufa Titulo: Amo-te, Técnica mista, Dim. 150 x 100 cm, Ano 2011

Biografia de Judith Teixeira em http://www.truca.pt/ouro/biografias1/judith_teixeira.html

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OE 2012 é inconstitucional, diz o Provedor de Justiça

justiçaEm declarações à Antena 1, o Provedor de Justiça afirma que pondera enviar o Orçamento de Estado de 2012 para o Tribunal Constitucional por causa do corte do 13º e 14º mês para os aposentados ou reformados.

Alfredo José de Sousa diz aguardar apenas o conhecimento da argumentação do requerimento que alguns deputados do Partido Socialista e do Bloco de Esquerda elaboraram para pedir a fiscalização sucessiva do Orçamento do Estado para 2012 ao Tribunal Constitucional.

Para o Provedor de Justiça o Orçamento do Estado para 2012 é inconstitucional porque é uma quebra de contrato idêntica ao que seriam as revisão das Parcerias Público Privadas (PPP). “… então se  o Estado pode ir alterar esses contratos [com os reformados e pensionistas] então por que é não o pode fazer nos contratos das Parcerias Público Privadas? “ diz Alfredo José de Sousa. Áudio

Na mesma entrevista, Alfredo José de Sousa mostra-se preocupado com os serviços públicos que o memorando de entendimento com a ‘troika’ e o Governo preveem privatizar.

O Provedor alerta ainda que os preços dos serviços vão aumentar com a privatização dos CTT, da EDP, da Águas de Portugal e das empresas de transporte. Alfredo José de Sousa defende que só a regulação pode evitar esta subida de preços.

Entrevista completa aqui 

Parcerias Público-Privadas vão custar €59,6 mil milhões

Portugueses vão andar mais 40 anos a pagar

Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/parcerias-publico-privadas-vao-custar-8364596-mil-milhoes=f643535#ixzz1kepPG24p

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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Divas

Deixe a menina aparecer,
se colorir, se revirar e extenuar-se de avessos,
loucuras, orgasmos e mistérios.

visibilidade

Deixe a menina, deixe a mulher,
que elas se transformem em estradas,
que saiam das entrelinhas, rasguem seus casulos,
quebrem muros, saiam dos quadrados,
cortem os asfaltos com seus pés de fada,
com seus pés de dama,
com suas garras de onça.
E elas sangram, elas se doam,
choram, viram luzes, estrelas, divas e correntezas.

Vai menina, ser nítida,
palavras, fogo e arco-íris na vida!
Vai amar a poesia, a alma feminina,
vai ser essa escrita que se fabrica na luta,
na dor, na lida, nos beijos e desejos seus.

Tornar-se fel e depois se derramar de doçuras,
viver o que tem vontade de ser.
Ide, cara senhora, tingir de lilás o nosso céu.
Sai destas frestas, voa mulher,
dirige esse vagão,
se permita sair dos trilhos,
deixe que vejam seus brilhos,
suas risadas, sua emoção.
Descasque-se, vire esse mundo,
rompa couraças, se desabroche,
pois é hora de ir à forra,
deixar os guetos, sair dos quartos.
Te expõe, se mostra,
ela e a vida te esperam lá fora...
Vai às ruas te exibir, falar da tua agonia,
do teu dia-a-dia,
da necessidade da alforria,
do seu despir, amar, sentir,
do seu inventar.

Menina, pega Maria pela mão
e vai amá-la com liberdade,
no clarão de um dia de sol,
no alvorecer da diversidade.

(Andréa Lima)

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2012 - Ano de boas mudanças

mudar de vidaEspelho meu, espelho meu há alguém mais otimista do que eu?

Aumentos previstos para 2012

  • + debate político
  • + responsabilidade nos atos políticos
  • + estima pelo bem público
  • + visitas aos amigos
  • + convívio familiar
  • + vivência comunitária, tertúlias e associativismo
  • + recurso à Internet como ferramenta de contestação

A historiadora Irene Pimentel acredita que o agravamento das condições de vida poderá "dar mais força à discussão política". "É uma esperança que eu tenho, que vai aumentar o debate político". Outras expectativas passam por haver "mais responsabilidade nos atos políticos" e "mais estima pelo bem público".

O escritor Mário Zambujal acredita que as pessoas vão "visitar-se mais": "Vão juntar-se nas casas umas das outras para uma festinha." À força de consumirmos menos e pouparmos mais, vamos reduzir as idas ao restaurante e a outros espaços de lazer, e estar mais tempo em casa. Uma das consequências será o aumento das refeições caseiras, até para levar também comida para o trabalho.

Os encontros familiares serão mais frequentes e, em alguns casos, diferentes gerações poderão viver juntas: "É possível que deixe de ser viável que as pessoas da classe média tenham familiares em instituições privadas, que são caras. E que os familiares mais idosos fiquem mais tempo junto das famílias, que voltam a ser alargadas", avança o sociólogo e professor da Universidade de Coimbra, Elísio Estanque.

Maria Filomena Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Demografia, também acredita que tal poderá acontecer, sobretudo "nas famílias com baixos recursos": "Haverá um retorno dos avós ao lar. Com o desemprego, as pensões dos idosos acabam por ajudar na gestão do orçamento." (Esperemos que não aumente igualmente a violência, o sequestro e o roubo das pessoas idosas.)

O presidente da Cáritas Diocesana do Porto, Barros Marques, acredita que estes comportamentos fomentarão "um estilo de vida mais comunitário e menos individualista: "Vamos criar laços de alguma economia doméstica, familiar, fazer reuniões com amigos", partilhando comida. "E regressarão as grandes tertúlias e o associativismo, como espaços de debate, de troca de impressões, de esclarecimento, nos quais as pessoas sintam que estão a remar juntas."

Inês Pereira, investigadora nas áreas dos movimentos sociais e novas tecnologias da informação no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, acredita que este ano, e no que respeita à contestação, acentuar-se-á "o recurso à Internet, como forma de divulgar causas, como meio de convocar e concertar ações transnacionais, e como palco de uma "guerrilha informacional"

"Entraremos numa fase em que temos de travar esta sede desesperada de consumo, de querer ter tudo, sempre mais, e vamos chegar a um ponto de nos voltarmos para coisas que não estão à venda nos shoppings, como ver nascer o sol na Arrábida", afirma o escritor Mário Zambujal .

Excertos do artigo de  Maria João Lopes no jornal Público de 22.01.2012

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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Movimentos

"Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem"
Rosa Luxemburgo

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