segunda-feira, 29 de março de 2010

Teóloga inglesa concorda com Elton John: "Cristo era gay"

Segundo a teóloga, ser gay é mais difícil do que ser heterossexual

Deus criou pessoas e para elas não definiu orientação sexual. Portanto, todas devem poder casar-se, se assim o desejarem, diz a teóloga feminista Myra Poole(*) que, porém, vai mais longe: "Acredito que Cristo era gay."

Em entrevista à agência Lusa, por ocasião de uma conferência em Lisboa, para a qual foi convidada pelo grupo português do movimento internacional Nós Somos Igreja, a católica inglesa vinca: "Se as pessoas são homossexuais, é porque Deus as fez assim, está certo. Quem sou eu para dizer que Deus fez toda a gente heterossexual? Deus pode fazer o que quiser."

"Concordo com [o músico] Elton John. Penso que Cristo era gay. Porque era da natureza de Cristo escolher aquilo que seria mais difícil quando se tornou humano. E ser gay é, para um homem, uma das orientações mais difíceis de assumir", explica Myra Poole, conhecida pelas críticas ao Papado e à hierarquia eclesiástica.

Ativista pela ordenação de mulheres há mais de 20 anos e há mais de 50 integrada na congregação de irmãs Notre Dame de Namur, fundada em França, Myra Poole diz que a avançada idade lhe permite dizer o que pensa: "Já não me podem tocar, no passado já me queimaram na fogueira. É preciso pessoas na linha da frente, para dar coragem a todas as outras."

Myra Poole começou por ser anglicana, devotando-se ao catolicismo já na universidade, e dedicou-se à educação de jovens mulheres gerindo duas escolas.

Chegou a ser ameaçada de expulsão durante a Conferência Mundial de Ordenação das Mulheres, em 2001 (Dublin). Foi, recorda, um momento "catalisador" para "todas as mulheres da Igreja Católica", porque revelou que "é possível contornar o poder do Vaticano".

"Há coisas tão boas na Igreja que têm sido destruídas pela forma como a liderança tem agido", sustenta. "Quanto mais olho para o atual Papa, mais sinto pena dele. Está preso numa cultura que não lhe fez bem, nem a ninguém no Vaticano, e também não fez bem às mulheres e aos homens", considera.

Defensora da ordenação de mulheres - "enquanto as mulheres forem cidadãs de segunda classe, podemos tratá-las como objetos, violá-las, violentá-las e mantê-las na pobreza" -, Myra Poole sublinha que não se pode falar em teologia "sem dois adjetivos": "Masculina e patriarcal".

Assume-se como teóloga feminista cristã e o 'feminista' não está no centro por acaso: "Sou uma teóloga feminista - não se pode ser uma coisa sem a outra, porque o feminismo inclui mulheres e homens. O que o feminismo defende é que as mulheres têm o direito de ser consideradas totalmente humanas e não de segunda classe".

Nesse sentido, embora defenda que os padres se possam casar, opõe-se a que tal aconteça antes da ordenação de mulheres. "Ao longo da História, do Império Romano à atualidade, as mulheres nunca foram incluídas na liturgia e por isso praticaram-na na periferia", lembra, referindo que nada mudou muito: "No século XXI, eles ainda pensam que somos bruxas! E além disso as bruxas podem ser boas ou más. É extraordinário!"

Mas, reconhece, as mulheres "são mais fracas" no "entendimento da obediência". "As mulheres têm sido demasiado obedientes aos homens da Igreja, quando a obediência matura é ao Espírito Santo. Temos de discernir o que é bom e mau em qualquer autoridade. Os homens têm dominado as congregações por demasiado tempo. E o prelado. As mulheres precisam de ser libertar, mas vai levar muito tempo", antecipa.

por Agência Lusa, Publicado em 29 de Março de 2010

http://www.ionline.pt/conteudo/53081-teologa-inglesa-concorda-com-elton-john-cristo-era-gay

* Myra Poole é uma religiosa da congregação de Notre Dame de Namur, tendo sido quase forçada a abandonar a ordem em 2001 por causa da sua participação na Conferência Mundial de Ordenação das Mulheres, em Dublin.

MYRA2 Dorothea McEwan, Myra Poole and Helen Blackburn

Professora de história e ex-directora de uma escola secundária dedicou os últimos vinte anos à teologia e espiritualidade feministas, tendo trabalhado sobre temas relativos às mulheres na Igreja Católica, nomeadamente na ordenação de mulheres.

Autora de vários artigos e de dois livros, um sobre o carisma da sua congregação, outro em co-autoria com Dorothea McEwan, intitulado "Tornando Novas Todas as Coisas: a ordenação das mulheres como catalisadora de mudança na Igreja Católica".

1 comentário:

  1. Olha, já surgiu até um texto sobre a homosociabilidade de Jesus por ter escolhido 12 homens para segui-lo etc. Uma mulher não tinha a mesma liberdade de um homem, a palavra de uma mulher não valia nem se ela testemunhasse um crime, então coisas desse tipo estão muito mal fundamentadas.Essa técnica de dizer que todo mundo é gay foi usada há muito pelo Grupo Gay da Bahia(é interessante "chocar" certas pessoas ao falar sobre seus "heróis ", entretanto não sei como exatamente isso contribui para diminuir o preconceito).Não professo nenhum tipo de religião, mas sou espiritualista, assim, só para concluir: as escrituras não falam que Jesus se casou e nem ao contrário; não creio que Jesus seja o filho de Deus do modo como a igreja quer fazer crer, porém acredito que ele é um mestre ascencionado e como tal a sua história de vida representa as 5 iniciações pela qual ele passou em uma ordem crucifista.Por isso coisas como casamento, sexualidade etc não tem a menor relevância.É só traçar um paralelo com a vida do sr.Buda e ver que ele deixou a família para tornar-se um iluminado.Um abraço.

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